segunda-feira, 12 de março de 2012

Orto... O que mesmo?

Orto... O que mesmo? - OFICINA DO ESTUDANTE
A todo momento estamos sujeitos a avaliações, leituras de alheios que estão a nos julgar por qualquer que seja uma ação, um olhar, um comentário e, mais ainda, um texto. Mais isso que outra, o escrever sempre está sujeito aos maus olhares; procura-se semper o que criticar, antes mesmo de se observar as virtudes na construção de um discurso. Os trocadilhos prontos, momentos que nos geram quinze minutos de gargalhadas aos quinze minutos de fama do outro, aparecem semanalmente em canais online, ou mesmo nos telejornais da televisão.

Um dos nossos presidenciáveis, o ilustre candidato José Serra, foi vítima de um episódio de infortúnio devido à sua campanha, uma propaganda durante começo das transmissões do horário eleitoral. Em tal, o candidato lançava mão de uma construção argumentativa em que se comparava com o povo brasileiro, em um chavão que foi alvo de chacota: “Brasileiros como ele, como a mãe dele que eu conheci também, como a Vânia que é sua mulher, como o Damião, como a Andreia, como a Dona Maria(...)”. Um trocadilho pronto para ser lembrado durante toda a campanha eleitoral.
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Apesar disso, o que mais chama a atenção são as graçolas que estão prontas para serem caçoadas por muito tempo são aquelas em que a ortografia, ou mesmo a morfossintaxe, da norma culta do português escrito, é transgerdida de modo luminoso. Sinais, placas, propagandas que não passam por uma revisão atenciosa sofrem sempre problemas; mas, de atentar-se ainda mais, são as sinalizações populares espalhadas pelo Brasil. Sinais como “Ceja bem-vindo e esprimente a linguiça”, ou mesmo “Vende-si esta caza” são sempre lembradas na sabedoria popular.

Mas afinal, por que se escreve assim? A resposta está na face de quem inquere: fala-se assim. As vinte de quatro letras do alfabeto (após o novo acordo ortográfico) são colocadas para representar mais do que vinte e quatro fonemas que existem na língua portuguesa; sendo assim, por que escrever casa e não caza? Afinal, apredemos, em nossa alfabetização, que a letra z representa o fonema /z/.
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É tudo uma questão de padronização e convenção que se estabeleceu para a ortografia do português. Ortografia é uma derivação de duas palavras gregas: ortós que significa reto, noventa graus, assim, correto; e grafé, que significa escrito, letra. Escrever corretamente segundo uma norma, uma convenção, desvendar a ortografia é desvendar a norma culta do português. Representar a língua falada a partir de símbolos é uma tarefa não muito simples de convencionar, mas que deve ser aprendida.

Não podemos nos enganar pela escrita, já que são símbolos que escondem o que realmente se fala. O que se pode ver em registros como “Ser moça é facio, deficio é ser vige” é como, popularmente, se vê a língua escrita: muito mais próxima da língua falada.

Este blog não tem nenhuma afilização partidária, portanto, qualquer leitura tendenciosa em termos eleitorais está transviada do verdadeiro viés que quero abarcar, sendo ele a língua e seus fabulosos fenômenos.
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Orto... O que mesmo?

A todo momento estamos sujeitos a avaliações, leituras de alheios que estão a nos julgar por qualquer que seja uma ação, um olhar, um comentário e, mais ainda, um texto. Mais isso que outra, o escrever sempre está sujeito aos maus olhares; procura-se semper o que criticar, antes mesmo de se observar as virtudes na construção de um discurso. Os trocadilhos prontos, momentos que nos geram quinze minutos de gargalhadas aos quinze minutos de fama do outro, aparecem semanalmente em canais online, ou mesmo nos telejornais da televisão.

Um dos nossos presidenciáveis, o ilustre candidato José Serra, foi vítima de um episódio de infortúnio devido à sua campanha, uma propaganda durante começo das transmissões do horário eleitoral. Em tal, o candidato lançava mão de uma construção argumentativa em que se comparava com o povo brasileiro, em um chavão que foi alvo de chacota: “Brasileiros como ele, como a mãe dele que eu conheci também, como a Vânia que é sua mulher, como o Damião, como a Andreia, como a Dona Maria(...)”. Um trocadilho pronto para ser lembrado durante toda a campanha eleitoral.

Apesar disso, o que mais chama a atenção são as graçolas que estão p

rontas para serem caçoadas por muito tempo são aquelas em que a ortografia, ou mesmo a morfossintaxe, da norma culta do português escrito, é transgerdida de modo luminoso. Sinais, placas, propagandas que não passam por uma revisão atenciosa sofrem sempre problemas; mas, de atentar-se ainda mais, são as sinalizações populares espalhadas pelo Brasil. Sinais como “Ceja bem-vindo e esprimente a linguiça”, ou mesmo “Vende-si esta caza” são sempre lembradas na sabedoria popular.

Mas afinal, por que se escreve assim? A resposta está na face de quem inquere: fala-se assim. As vinte de quatro letras do alfabeto (após o novo acordo ortográfico) são colocadas para representar mais do que vinte e quatro fonemas que existem na língua portuguesa; sendo assim,

por que escrever casa e não caza? Afinal, apredemos, em nossa alfabetização, que a letra z representa o fonema /z/.

É tudo uma questão de padronização e convenção que se estabeleceu para a ortografia do português. Ortografia é uma derivação de duas palavras gregas: ortós que significa reto, noventa graus, assim, correto; e grafé, que significa escrito, letra. Escrever corretamente segundo uma norma, uma convenção, desvendar a ortografia é desvendar a norma culta do português. Representar a língua falada a partir de símbolos é uma tarefa não muito simples de convencionar, mas que deve ser aprendida.

Não podemos nos enganar pela escrita, já que são símbolos que escondem o que realmente se fala. O que se pode ver em registros como “Ser moça é facio, deficio é ser vige” é como, popularmente, se vê a língua escrita: muito mais próxima da língua falada.

Este blog não tem nenhuma afilização partidária, portanto, qualquer leitura tendenciosa em termos eleitorais está transviada do verdadeiro viés que quero abarcar, sendo ele a língua e seus fabulosos fenômenos.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Às Musas

A palavra grega para "musa", na verdade, é de fato muito parecida com a nossa versão em português: μοῦσα (pronuncia-se 'mussa'). Essa palavra, que hoje tem um significado até um pouco parecido com o que era na antiguidade clássica, gera inúmeras outras ideias, e a raiz da formação de tal verbete vem de ideias até mais impressionantes. Hoje nós temos musas diferentes das musas dos gregos; enquanto eles tinham Calíope, a musa do épico, Tália, a musa da comédia, nós temos Nana Gouvêa, a Musa do Verão, e Wanessa Mattos, a Musa do Brasileirão; cada qual com um valor para sua época.

Mas o que pouca gente raciocina, na verdade, é que a palavra μοῦσα gera a palavra μουσική (pronunciada mussiké), que, traduzindo para o bom português, significa 'música' ! A música, ora, como diz o nome é a arte das musas, aquilo que nos é inspirado pelas ninfas, mais precisamente pela musa Euterpe (geralmente vista com um tipo de uma flauta chamada 'aulos'). Mais fundo ainda num estudo etimológico você pode achar que essa raiz, que gera 'musa' e 'música', é dada como *men-. Ora, mas e daí?

Essa raiz carrega o significado, no indo-europeu, de 'mente', 'pensamento' e, mais bonito ainda, de 'memória'. Essa é a raiz, que além de dar origem a essas três palavras, ainda gera a palavra μανθανω (pronunciada mantháno) que significa 'aprender' em grego. Inicialmente a ideia de música, de inspiração eram a mesma, e hoje, de um jeito ou de outro, as musas e a música ainda guardam na memória muitas coisas.

Belo, não?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Canta-me, ó Musa!


Começa-se, geralmente, apresentando-se; ora, mas quero começar mesmo como já começavam antigamente: in media res, ou, traduzindo para a língua portuguesa, no meio da ação.

Os textos épicos começavam de tal modo, em meio à ação, ou seja, com a ação dramática já... Em ação!

Ora, a Ilíada, épico de origem grega (o texto ocidental mais antigo já encontrado), começa já em um certo clímax: uma briga entre o maior herói grego e o rei da frota helênica; a Odisseia, também texto aqueu, tem origem na procura de um filho pelo pai perdido há dez anos; a Eneida, poema latino do século I A.C., tem seu início em uma tempestade que arrasta o herói mar adentro, ao naufrágio; logo, não é de se pensar diferente do épico português: Os Lusíadas, quando seu pontapé de partida já é no meio do Oceano Índico.

Então, se aos épicos é permitido, vou começar isto in media res, jamais me comparando aos grandes clássicos.